O Sítio do Picapau Amarelo, a obra imortal de Monteiro Lobato, foi criado em 1921, e seu sucesso não restringiu-se apenas às publicações reeditadas de tempos em tempos, pois já teve, pelo menos, 2 versões para o cinema e 5 séries de televisão.
Em 1952 o programa Teatro Escola de São Paulo - TESP - um teleteatro dirigido ao público infantil, criado em 1948 por Júlio Gouveia e sua esposa Tatiana Belinky, levou ao ar a primeira adaptação do Sítio para a televisão. A Pílula Falante, um dos capítulos do livro Reinações de Narizinho, foi a história escolhida para ser exibida ao vivo na Tupi. O sucesso alcançado por esta única apresentação levou a emissora a produzir a primeira série de televisão do Sítio do Picapau Amarelo.
O programa estreou em 3 de junho de 1952 (às quintas-feiras, 19h30), com a reprise do episódio A Pílula Falante, ficando no ar por 11 anos. Paralelamente à exibição ao vivo em São Paulo, a TV Tupi do Rio de Janeiro exibiu, por dois meses no ano de 1955, uma versão da série com direção de Maurício Sherman e produção de Lúcia Lambertini, que também interpretava a Emília ao lado de Daniel Filho (o Visconde) e Zeni Pereira (Tia Nastácia).
A fama atraiu os patrocinadores tranformando a série no primeiro programa a utilizar a técnica do merchandising na TV brasileira. As histórias não tinham interrupção para o intervalo comercial, por isso, durante os diálogos ou cenas com os atores fixos, eram introduzidas divulgações de produtos como Vitaminas Bolos, Biotônicos Fontoura e Kibon.
Apesar de ter conquistado o público e os patrocinadores, a produção da série era reduzida a um único cenário fixo, a varanda do sítio, na qual ocorria a maioria das cenas. Os demais eram montados na hora dependendo das exigências de cada história. Também não haviam efeitos especiais e muitas mágicas, inerentes às histórias, precisavam ser adaptadas aos recursos da época.
"Quando um anjinho caía do céu, ele literalmente desabava sobre o cenário", lembra Tatiana Belinky. Um LP era segurado pelos dedos num toca-discos para dar os efeitos sonoros. Para encenar No Reino das Águas Claras, Tatiana pôs o aquário de sua casa à frente da câmera: os atores eram vistos cercados por peixinhos. "Só fizemos o que fizemos porque ninguém contou que não era possível."
Poucas histórias de Lobato foram descartadas na Tupi, por serem de difícil execução ao vivo, como O Poço do Visconde.
Cada episódio tinha a duração de 45 minutos, iniciado com o tema da música Dobrado, composto por Salathiel Coelho, e com as imagens de Júlio Gouveia abrindo um livro para contar uma história. Ao final, o episódio terminava com Júlio fechando o livro.
Os produtores tinham como objetivo manter a respeitabilidade do original trazendo situações que possibilitassem a educação infantil sobre a história universal e problemas do cotidiano da época, tal qual os livros de Lobato.
Mas a série encerrou sua produção em 1962, com um total de 360 episódios, quando Júlio Gouveia afastou-se de seu trabalho em televisão. No entanto os episódios do Sítio foram "reprisados" durante o ano de 1963. Por terem sidos exibidos ao vivo, a reprise consistia em reencenar cada episódio com pequenas variações de diálogos e textos, as quais eram feitas por Lúcia Lambertini.
A atriz Dulce Margarida interpretou a boneca Emília em duas ocasiões substituindo Lúcia Lambertini: quando Lúcia se casou e quando ficou grávida.
Em 1964, o Sítio do Picapau Amarelo foi resgatado pela TV Cultura, numa nova produção comandada por Lúcia Lambertini. O Sítio voltaria ao ar, pela TV Bandeirantes, em 1967, novamente sob o comando de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky e os respectivos atores da Tupi - mas dessa vez, sem sucesso.